quinta-feira, 22 de março de 2012

Absentia (2011)

Em Novembro do ano passado, este que novas vos traz foi agraciado com um aparelhómetro da Apple que rapidamente se assumiu como a coqueluche das telecomunicações lá de casa. Além de ter relegado os restantes telefones móveis para um apertado bolso das calças (sim, porque o iPhone afinfou-se logo ao casaco), relegou também o gato para outro espaço da casa (aquele onde o bicho da Apple não está a carregar), não vá o choque de titãs resultar em danos para qualquer uma das partes (mas sobretudo para o mai’novo, que ainda não se sabe defender). Isto para dizer o quê? Que a mera condição de proprietário de um iPhone me incutiu, fugazmente, aspirações à feitura de uma curtíssima metragem – a mui retro aplicação 8mm tem o condão de nos fazer acreditar e há um prédio com a fachada (e o que sei lá mais) em ruínas na rua. Digo fugazmente, porque as minhas perdas de juízo são, por enquanto, erupções de curta duração e alguém tem de fazer o jantar. Absentia (Mike Flanagan, 2011) parece ter sido feito com não mais de 15 contos, mas foi dinheiro bem aplicado. Topa-se a milhas que é produção independente (e independente, sobretudo, do capital que permite comprar maquinaria cara), que os actores são compinchas do realizador e terão sido pagos em senhas de refeição, que o catering não terá passado de água com groselha e línguas de gato. Não basta ter uma boa história, mas ajuda. Daniel, o marido de Tricia, está desaparecido há 7 anos e apresta-se para ser declarado «morto por ausência». Tricia quer «enterrar» definitivamente Daniel mas não consegue: continua a «vê-lo» nos sonhos, nos espelhos, em toda a parte. Callie, a irmã mais nova, acorre para ajudá-la a preencher a papelada do óbito e aproveita para passar por ali uns tempos. Quando Tricia se prepara para levar a vida em diante (na companhia de um generoso detective que acompanhou o caso), um acontecimento que, deliberadamente, vamos omitir (e não é por pirraça) muda o «estado de coisas». Paralelamente, a irmã – que trouxe consigo uma caixinha de drogaria – começa a suspeitar de um túnel mesmo ali ao pé de casa, uma espécie de portal «engolidor». Precisamente por causa da drogaria, não é levada a sério e é também por isso que o filme tem uma hora e meia. Absentia poderia ser uma curta-metragem económica, intrigante e eficaz; como longa, é igualmente económica e intrigante, mas menos eficaz na manutenção do mistério. Talvez estejamos a valorizar demasiado a ideia – e menos a sua prossecução –, mas já em criança era o jogo das escondidas que nos metia mais medo. E, valha a verdade, é por causa do cagaço que aqui estamos.

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