sexta-feira, 18 de maio de 2012

La Cara Oculta (2011)

Não vamos elencar os méritos artísticos das películas espanholas de terror – eles sabem que são bons –, mas apraz-nos sublinhar algo que não é despiciendo neste mundo atroz da carnificina no grande ecrã (ou no desconforto de um sofá escangalhado). E o que sublinhamos é a evidência de que as raparigas não são nada de err… deitar fora (prerrogativa que qualquer slasher dos anos 80 nunca enjeitou, mas que já vimos muito boa gente, depois, negligenciar). Concretize-se: La Cara Oculta (Andrés Baiz, 2011) tem predicados que ultrapassam o odor primaveril que pressentimos no corpinho airoso de Martina García, mas uma insistência inicial na nudez feminina antes de o filme ganhar, digamos, corpo (que não aquele de que estamos a falar), assume-se como estratégia infalível. Porque temos responsabilidades maritais, há que voltar à «vaca fria»: não é por maminhas ao léu que estamos nisto; La Cara Oculta não é sexploitation e, se quiserem uma analogia «distopicamente» rebarbada, as musas de Russ Meyer são widescreen para o exíguo Blackberry da nossa co-protagonista. Adrián é um maestro que se muda de Barcelona para Bogotá, na Colômbia. Consigo, vai a namorada Belén. Juntos, escolhem uma espaçosa casa de campo que uma senhora alemã, viúva, decide arrendar. Com a casa vem o cão. E com uma nova vida e nova orquestra (e nova violinista) para gerir, Adrián mostra-se algo titubeante na tarefa de se manter fiel. Belén, que trocou a cidade de Gaudí por uma algo inexistente Bogotá (Baiz quase não a filma, dando a entender que o financiamento colombiano não terá sido desmesurado), não é rapariga de se deixar ficar e, certo dia, Adrián chega a casa e não a encontra. No quarto, um bilhete que remete para a câmara fotográfica, onde Belén deixara gravada uma mensagem de despedida. Aflito, Adrián contacta a polícia, emborracha-se numa mesa de bar (como naquela canção triste brasileira que dá pelo nome de «Garçom»), e é «salvo» por uma «garçonete» local, Fabiana, que no dia seguinte já experimenta as molas da cama que era de Belén. A questão fulcral de La Cara Oculta é, claro, onde raio se terá metido Belén. Terá regressado a Barcelona? Foi raptada? Estará morta? E que casa é aquela, exílio de um oficial nazi (o falecido marido da proprietária alemã)? E porque é que a canalização já teve dias melhores? Tendo percorrido, interessados, a hora e meia do filme, já conhecemos as respostas e estamos aqui numa angústia para evitar o spoiler (neste blogue doravante designado como «estragação»): La Cara Oculta é um belo puzzle, uma história contada através de perspectivas distintas, concorrentes, que parecem querer tocar-se a determinado momento. E parte, afinal de contas, de um daqueles motes misteriosos que qualquer um de nós saberia esboçar numa noite de uísque em que, com embriagado (e embargado) entusiasmo, deixamos escapar um «ainda hei-de fazer um filme». Ainda bem que há quem os faça por nós, dizemos nós agora, a bebericar uma água das Pedras.

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