quinta-feira, 29 de março de 2012

Baghead (2008)

Horror, deboche, degredo: o estigma social. Para um pai, petiz que mostre simpatia pelo cinema do calafrio (queríamos dizer «catanada», mas vamos com calma) está, obviamente, no lado errado da vida – e acabou-se a semanada. A família junta-se em pânico, planeia-se uma «intervenção»: há que pôr termo ao vício danado, há que devolver o pequeno Paulo Jorge (nascemos nos anos 70, não vamos em Salvadores e Martins) ao mundo dos vivos e saudáveis. «Se conseguimos com o chamon…». Paulito resiste, fecha-se no quarto, empurra uma estante cheia de VHS de filmes censurados contra a porta (o vídeo de Driller Killer, empenhado assassino do berbequim, cai e espatifa-se no chão), reza a Freddy Krueger para que lhe apareça em sonhos. A sua raiva é a de Damien, o pequeno demónio de The Omen; os olhos são os de Damian Marley, inebriado que está pela ganza resgatada ao fundo falso de gaveta onde jaz também a primeira longa-metragem de Traci Lords. Seguro de si, coloca a máscara de um dos irmãos Cavaco (referências nacionais da evasão de cadeias), abre a porta e pergunta: «é outra vez lulas para o jantar?». Isto poderia ser o mote de um filme (mau) dos anos 80, mas é só uma maneira enviesada de aludirmos a um pudor muito próprio do cinema do cagaço: um vilão só dá a cara a muito custo. Há quem o faça por necessidade estética (a face de Jason Voorhees é imprópria para consumo, daí a máscara de hóquei), por incapacidade prática (Chucky está aprisionado no interior de um boneco), e por desleixo ou falta de recursos: eis-nos perante Baghead, um maltrapilho que faz das suas com um saco na cabeça. Em Portugal, cobriria a cabeça com um saco de plástico do talho da esquina; numa América «indie» e ecologicamente responsável, estamos perante a opção papel (é assim que eles transportam as compras; seria também assim que um português perderia metade da fruta pelo caminho). De baixo orçamento, Baghead é cinema sobre cinema, solução capaz de transformar os clichés mais hediondos em pretensas ideias astutas (às vezes corre bem, conceda-se). Não é um filme sobre rapaziada que vai para uma cabana e é atormentada por um sacana com um saco na cabeça. É um filme sobre rapaziada do cinema que vai para uma cabana tentar escrever um argumento sobre um grupo de amigos atormentado por um sacana com um saco na cabeça. Rapaziada essa que vem a ser – vá-se lá saber porquê – sacaneada por um vilão nos preparos já referidos. Nitidamente com os trocos contados, os irmãos Duplass safam-se bem porque os actores têm jeito para a coisa. Entre rapazes e raparigas (2+2), há os traiçoeiros, os ingénuos, os cautelosos e os impacientes. Há uma cabana, um carro, uma floresta. E – já dissemos? – um malfeitor com um saco metido na cabeça. Para nós chega bem.

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