sexta-feira, 9 de março de 2012

Happy Birthday To Me (1981)

Bastaria o poster para que Happy Birthday To Me merecesse lugar cativo por estes lados, mas este slasher de 1981 tem predicados suficientes para saciar a fome (que não de kebab) dos acólitos do cagaço. E parte, diga-se, de um dos motes mais descabidos (e, já que falamos do que falamos, também mais a propósito) do género. Dado a incisões com arma ferrugenta, arapucas medievais e quejandos, o slasher tem – na sua infinita capacidade de reinventar a morte tragicómica – um sentimento de culpa incrustado: precisa de um pretexto para justificar a mortandade. A mera existência de um tipo baralhado que começa a aviar carcaças não chega; é necessário mostrar por que é que a figura (normalmente mascarada) existe e está enamorada com a sua gama de recursos para extinguir o próximo. Em busca da tal ética, o slasher vai ao calendário e põe a malta a avariar em feriados e dias especiais: temos, então, a noite das bruxas em Halloween; a aziaga sexta-feira dia 13 em…err… Sexta-feira 13; o dia das mentiras em April Fool’s Day; o Natal em Black Christmas; o dia dos namorados em My Bloody Valentine. Mas como os dias especiais são limitados, não é de desaproveitar o charme discreto de uma certa jornada móvel, fixa na vida de cada um de nós (se tudo tiver corrido bem), mas variável de ser vivo para ser vivo: o dia de anos. A razão pela qual até somos tentados a compreender um infeliz com a roupa manchada de sangue e machado na mão prende-se com a pura necessidade de obtermos uma autorização para testemunhar uma série de crimes a brincar (é cinema, amigos). «Ele é assim porque, caramba, não se aguenta quando o dia a seguir ao 12 calha numa véspera de fim-de-semana; ele é assim porque é dia das mentiras, pá, tem direito a pregar umas quantas partidas e a diminuir a densidade populacional da sua comunidade; ele é assim porque o Pai Natal nunca lhe deu uma metralhadora de brincar; ele é assim porque não aguenta jantar sozinho no dia dos namorados». Realizador inglês (J. Lee Thompson, nascido quatro anos depois da minha avó que viveu mais) a filmar no Canadá dá a Happy Birthday To Me uma aura de culto, mesmo que o tal pretexto seja o mais fácil (alguém faz anos, ena, que bom). Somos apresentados a Ginny (Melissa Sue Anderson, uma das petizes de Uma Casa Na Pradaria), rapariga popular num liceu privado e membro de uma elite composta por alguns dos adolescentes mais abastados (e obnóxios) da escola. Ginny é gira, mas tem sequelas de um acidente perturbante sucedido no ano anterior. Ginny vai fazer anos. Os amigos de Ginny começam a morrer. Não vamos, obviamente, mais longe neste inventário de ocorrências, mas em benefício de Happy Birthday To Me não só há um prazer pelo macabro (e nesse reduto estamos bem servidos), como uma intenção bem concretizada de firmar um clássico, com inflexões que mais facilmente associaríamos ao meta-slasher dos anos 90, ao próprio género a reflectir sobre si próprio. Diríamos, se quiséssemos embrulhar isto com um perfume para oferecer, que «está à frente do seu tempo». Mas vamos rematar a coisa com um tímido «parabéns a você». É o que se diz, não é?

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