sexta-feira, 2 de março de 2012

The Happening (2008)

Isto do cagaço não é dado a lamechices, mas abro uma excepção para assumir o meu carinho por filmes com a premissa «o mundo vai acabar, só cá estou eu e meia dúzia de labregos, mas isto há-de se arranjar» (também tenho um carinho por filmes com a premissa «featuring Zooey Deschanel», mas já lá vamos). Não interessa a causa – guerra biológica, condições meteorológicas adversas, invasão de marcianos, criaturas malvadas criadas em laboratório, batalhão de mortos-vivos na fila para tirar o passe, coisas a cair do céu ou contágio por via indistinta –, também não interessa se estamos em 1977 ou em 2041. A ideia que cativa é puramente anímica: alguém vai ter de fazer pela vida. Normalmente, nestes filmes decido saltar para o lado de lá do grande ecrã, qual Jeff Daniels n’A Rosa Púrpura do Cairo (ou o Rui Tolo, quando íamos todos ao cinema na Escola Primária) e lá vou eu de metralhadora às costas, vara de pau na mão ou biqueira de aço – é aqui que se vê quem tem coragem e quem se encolhe à primeira picada de mosquito. A meu lado, naturalmente, rapariga bem apessoada, algo vulnerável, mas firme e decidida na altura certa (ou naquela parte em que eu estou com um camafeu preso ao pescoço e é preciso resolver o assunto). Faça chuva ou faça sol (e, nestes filmes, o sol queima), é certo que há um grupo que se mete à estrada (ou fica retido num empreendimento qualquer) e vai servindo cacetada (ou apanhando com detritos em cima) à medida que a cidade – há sempre uma cidade – vai ficando inabitável e a nossa demanda de um lugar para estar (um sofazito que seja, pá) se vai tornando cada vez mais difícil de concretizar. Nestes filmes, as saudades do antigamente (como naquela música dos Specials que diz que a vida era farta antes de a cidade ter virado fantasma), dos tempos em que se podia sair à rua para fazer o Totobola, são impressionantes – especialmente se tivermos em conta de que no dia anterior estava tudo bem e ninguém sentia a falta de coisa nenhuma. Isto acontece porque todos os sentimentos são ampliados – como nas relações amorosas via internet :)))))**** –, porque tudo é vivido com aquela nervosidade de poder ser a última vez que damos corda ao relógio. Ou que vemos aquele tipo estranho que se juntou ao nosso grupo e que desconfiamos que vai lerpar de forma estúpida. Ou que fitamos os olhos de Zooey Deschanel – dois, azulões, tipo desenho animado japonês – só mais uma vez. E é ela que nos leva a O Acontecimento (The Happening na versão original), de M. Night Shyamalan, aquele filme em que Mark Wahlberg passa o tempo todo com a cara de «estou para ir à casa de banho desde as 10 da manhã, mas levaram-me o jornal» e Zooey com olhos de Deschanel. Passámos este tempo todo a inventariar os requisitos do bom filme de sobrevivência. O Acontecimento, por sua vez, é tão pouco convincente que merece que lhe dediquemos apenas mais uma linha.
Esta.

1 comentário:

  1. Boas! Há cerca de uma semana que ando a seguir o blog. Como fã do género, sinto-me tentado a dizer algo.
    Obrigado por por existires Gazeta do Cagaço!!
    Já agora, já vi este filme, tenho-o na minha colecção e muito sinceramente a história até é jeitosa mas há ali qualquer coisa que não funciona...

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