segunda-feira, 12 de março de 2012

The Stepfather (1987)

Gostava de discorrer sobre 1987 como se lá tivesse estado – e estive, provavelmente a comer caldeirada de petingas em casa da minha avó paterna. Sobre 1986, terei sempre o Mundial de Futebol do México e uma caderneta de cromos da Panini que não me deixa mentir; em 1988 houve o Europeu e a Holanda e o Van Basten. Mas 1987 é um buraco na minha memória; tenho a certeza de que andei por lá, de calções no Verão e Kispo no Inverno, mas apenas isso. Serve este intróito para apresentar a temática do «estive lá e trouxe esta cicatriz no joelho» vs «estive lá porque me contaram» (ou «estive lá porque li na internet»). E para deixar claro, antes de mais, que não vi The Stepfather no ano em que se estreou no cinema, nem no que veio a seguir, nem sequer vinte anos depois. Tê-lo-ei visto com idade suficiente para exclamar, aos primeiros minutos, «espera lá, mas isto é o Locke do Lost com cabelo!». The Stepfather (Joseph Ruben, 1987) tem como protagonista Terry O’Quinn, o actor que viria a tornar-se mundialmente famoso através da série que desalojou o Championship Manager do trono dos meus hábitos compulsivos. Vê-lo aqui, no final dos anos 80, sem a t-shirt transpirada, nem cabelo rapado e isento de convicções metafísicas é uma surpresa. E não adianta lembrar-me, a todo o momento, que este ainda não era o Locke do Lost; o próprio Lost mostrou-nos que confiar na linearidade do tempo é um logro. Este Locke do passado é – fica desde logo claro – um assassino em série sempre pronto para outra. Para trás, uma família dizimada; na bagagem, o estritamente essencial para recomeçar vida nova. Falar aqui de vida é relevante: Henry (o nome que resolveram dar ao nosso Locke) quer ter uma, pelo menos durante algum tempo. É um serial killer familiar: infiltra-se num agregado sem marido/pai, seduz a mãe, tenta comprar o/a filho/a com oferendas, acabará por limpar o sebo a todos quando estiver com a mosca. Aqui vemo-lo um ano depois da última «limpeza», a fingir ser um mediador imobiliário chamado Jerry Blake, casado com Susan Maine (viúva) e padrasto de Stephanie, adolescente com a sua dose de neura. Como seria de esperar, a mãezinha cai no engodo; a filhota nem tanto. A história de The Stepfather é a história de um vilão a retirar, progressivamente, a maquilhagem; de um anjo da guarda a transformar-se num matador obstinado; de um projecto de pai a transformar-se num filho da mãe. Locke (ou Terry O’Quinn) convence-nos: também em Lost o vimos, extremoso, a construir um berço para o filho de Claire para, a seguir, fazer ver a Jack que o protagonista da série não tem que ser o salva-vidas. A persistência jogou a favor dele: sabemos que dois anos depois lambeu as feridas, deu de frosques de um hospital psiquiátrico e voltou ao activo (eis-nos perante The Stepfather II). É mesmo à Locke.

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