segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Eyes of Laura Mars (1978)

Ah... o bom e velho Os Olhos de Laura Mars. Lembro-me perfeitamente de quando o vi pela primeira vez. Estávamos num Inverno seco e soalheiro – que saudades de Janeiro de 2012... Convirá esclarecer, porém, que não o fiz antes porque a capa do DVD – que mostra a face de Faye Dunaway parcamente iluminada na penumbra, boca irrepreensível, olhos cocainados – sempre me deu a entender que o ser vinha do outro mundo. Cagaço alienígena é, por aqui, um turn off, salvo excepções que assinalaremos a seu tempo (e sim, respeitinho pelo oitavo passageiro): é um desalento cada vez que, no culminar de um crescendo de nervoso miudinho, nos dão a entender que os culpados dos maiores mistérios da nossa pacata existência terrena são seres feios, desarticulados mas poderosos, vindos dos arredores do planeta azulado. É como se no guichê dos porquês nos dissessem «lamentamos, mas isso não é connosco; tem que falar ali com aquele cavalheiro com os olhos no rabo e o rabo na cabeça que, de resto, está aqui para lhe limpar o sarampo». Não é coisa que nos apeteça fazer; é burocracia dolorosa. Mas não, Laura Mars (ou Faye Dunaway) não vem de Marte; é uma fotógrafa de moda bem-sucedida que começa a ver o que não quer. Aponte-se o calendário para os derradeiros anos da década de 70, com algum disco-sound à mistura e aquele glamour esborratado que continua a alimentar espectáculos de transformismo ad aeternum. Conte-se com uma apreciável dose de plasticidade high fashion, alguma neura nova-iorquina, penteados campanudos e corpos curvilíneos estilizados, tão à vontade no trashy como no chic (e não, não fomos convidados para a última Moda Lisboa). Nada que nos demova de desviar os olhos (os nossos, agora) de Faye Dunaway, diva tangível da década em questão, com quem já tínhamos trocado uns olhares (argh, os trocadilhos) marotos em Chinatown (1974) e Network (1976). A vida dela, por aqui, começa a complicar-se quando, através da retina da personagem Laura nos vamos apercebendo da ordem de trabalhos sangrenta de um assassino em série. São aviados pela medida grossa manequins (mais ou menos vestidas), amigos e conhecidos, um assistente pessoal espampanante, gente inocente em geral, para desespero de Laura e à revelia dos melhores intentos do detective (tinha de haver um, não?) que um jovem Tommy Lee Jones encarna com vigor. A história (John Carpenter a escrever para Irvin Kerschner realizar) dá as suas voltas e as aparências nunca são de fiar, mas as peças vão encaixando airosamente. E nunca achamos que a culpa vai ser daquela criatura truculenta que estacionou a nave espacial em segunda fila.

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