sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Slaughter High (1984)

Já não vou para novo. Ainda me lembro do Caniço a esvair-se em sangue na novela portuguesa Chuva Na Areia (mas só muito mais tarde percebi que o rapaz não perdera apenas glóbulos de duas cores) e sei de cor quem matou Odete Roitman na novela brasileira Vale Tudo. Filme com bolinha significava ir para a cama mais cedo, mas catanada ou tiro à queima-roupa nas novelas ia bem com iscas de fígado ao jantar. Durante muito tempo, metia-me mais medo uma foto a preto e branco na parede do escritório de casa de uma tia («Era a irmã do avô, morreu com 2 anos, não falemos mais disso») do que qualquer cagaço no pequeno ecrã. A protecção materna começou a fraquejar no início dos anos 90 e foi por aí que filmes obscuros como Terror no Supermercado (que venho a descobrir agora chamar-se Intruder, de 1989), com Sam Raimi e Bruce Campbell (sim, a parelha realizador/protagonista de The Evil Dead), ou A Máscara Assassina (Slaughter High, de 1984) passaram a ser a minha resposta na escola à pergunta «Quais são os teus filmes de terror preferidos?». Dizer Gremlins ou Aracnofobia talvez ajudasse a uma maior integração, mas se na música e no futebol era um cepo de primeira, no cinema de arrepiar tinha os meus galões (perdidos na faculdade para os filmes de autor, mas erros todos cometemos). No primeiro agradava-me que a acção estivesse praticamente confinada ao interior de um supermercado (para o caso de alguém precisar de uma cotonete); no segundo agradava-me tudo, e é deste que vos falo agora. Slaughter High tem tudo o que um bom slasher deve ter: charros a rodar de mão em mão, seios femininos, uma partida que acaba mal, efeitos sonoros ridículos e o genérico final ao som de heavy metal. Conta-se a história de Marty, o saco de pancada da escola, vítima do que hoje denominaríamos de «bullying» e alvo (bem-sucedido) de uma valente explosão no laboratório de química. Poucos anos depois, a malta responsável pela tropelia volta à escola (agora convenientemente abandonada) para um encontro informal de antigos alunos (à noite, claro) e começa a ser incomodada por um cavalheiro mascarado de joker do baralho de cartas, nada menos que o nosso nerd desfigurado. Como em quase todos os slashers, os estudantes de secundário têm todos idade para ter filhos (adolescentes) – e nesse particular há a assinalar a presença da espantosa Caroline Munro, diva do horror barato dos anos 70, à época com 35 anos –, e a hipótese de procurar melhor sorte fora dali nunca é colocada, para gáudio do espectador. Pormenor perturbante: o actor que desempenha o papel de Marty desistiu de viver pouco depois. Acagaçou-se.

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