sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Inhale (2010)

Filmes sobre transplantes de órgãos são um investimento seguro – pelo menos para mim que não me comovo com escarafunchos e perfurações em corpo alheio desde que vi a minha tia Edite a despir o casaco de peles a um coelho que eu próprio baptizei. Inhale é um filme que parte de um propósito válido: filha pré-púbere de um casal mal consegue respirar e precisa de um pulmão novo. Aqui convirá esclarecer que o pai é um advogado poderoso que trabalha para um candidato a governador ainda mais poderoso, e a mãe é a sempre mimosa Diane Kruger, senhora de uma promissora cena de nudez aqui interrompida por emergência pulmonar da filha (chatice o filme não ser sobre, sei lá, caruncho no tecto). Resmungos à parte, há aqui alguma capacidade para «resolver as coisas». E é precisamente para resolvê-las que o protagonista (o pai) viaja para o México, paga favores com notas de conto a cado passo que dá, anda cá e lá entre hospital, polícia e barraco de traficante, faz amizades de circunstância e, claro, é colocado perante o dilema dos dilemas. Sim, há sangue (falámos em polícia, certo?); sim, há tiroteio de meia-noite, civis abatidos a baixo custo; não, não torna a haver nudez de Diane Kruger. Mas há um propósito empático e imaginamos a locução do trailer mais ou menos assim: «um pai, uma mãe, uma escolha, uma carrada de mexicanos – até miúdos de rua – que sabe falar inglês». Só não há um pulmão virulento a atacar as amígdalas com uma espada de samurai. Mas a vida, tal como a lasanha da cantina, nunca é como a gente quer.

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